Sunday 20 November 2022

roses are red, poems are sappy...

...one must imagine Sisyphus happy."

A meu ver, a única razão lógica para imaginar Sísifo feliz, é puramente para examinar as intrincacias da natureza humana. Não nos mantenhamos apenas por isto...

Não sendo explicitamente especificado por Camus, existe também a distinção entre reflectir sobre a vida VS apenas viver a vida; ou seja, reflexão de um lado e experiência vivida do outro.
Se nos atrevermos a reflectir sobre a vida, ela parecerá, a dada altura, estranhamente semelhante ao destino de Sísifo.

Parece sem qualquer sentido, porque todos os nossos projectos serão a qualquer momento apagados e esquecidos, estejamos ainda nós vivos ou, na melhor das hipóteses, depois de mortos. 


Sub specie aeternitati, a vida parece provavelmente não ter sentido. No entanto, não temos de levar esta visão connosco constantemente. Na maioria das vezes, especialmente quando estamos a tomar decisões - a reflexão, o típico "overthinking" é apenas uma distracção, e fará com que qualquer acção nossa pareça absurda. Talvez possamos aprender a concentrar-nos na nossa experiência vivida e esquecer a percepção da falta de sentido. 

Isto ao mesmo tempo pode parecer uma solução fácil, barata, para apenas fingir que os nossos "insights" não significam nada, mas parece que a nossa mente reflexiva/analítica está de alguma forma obrigada a tentar perceber que tudo o que fazemos é absurdo, independentemente da forma como o enquadramos! Talvez tenhamos apenas de aceitar isto e aprender a deixar de pensar (reflectir/ruminar) quando não é necessário. 

Creio que muitas, se não a maioria das pessoas, fazem isto naturalmente. É provavelmente mais fácil perceber a felicidade se não se pensar muito.

"Ignorance is bliss".

Uma "mentalidade filosófica" provavelmente torna-a mais difícil. Talvez a mentalidade mais "completa" ou honesta seja aquela em que se consegue/não se tem medo de ver o absurdo, mas ainda assim consegue-se não se tornar niilista e/ou deprimido, e mergulhar no que se está a fazer e encontrar valor nele. 

Quero considerar também uma versão em que a rebelião contra o dogmatismo e autoridade seja a própria fonte de aparente liberdade de Sísifo. 
Uma versão em que existe honra na nossa individualidade, pensamento, e por fim escolhas (eternas, neste caso). A definição de absurdismo de cada um é extremamente dependente da linguagem, educação e filosofia dos quais. Para mim o absurdo é o conflito entre a minha humanidade e racionalidade contra a irracionalidade da natureza das decisões, ações, e universo que me rodeia. 

Não acredito que exista um fecho razoável à humanidade a partir desta obra, no entanto, é demasiado desmembrada, ramificada e absurda o suficiente para não conseguir dormir em paz satisfatória sob ela - nada menos nem nada mais do que esperaria de Camus.